Cibercultura e divisão social do trabalho intelectual no Brasil: em nome da consolidação institucional nacional de um novo campo interdisciplinar de estudos Contribuição à memória da fundação da ABCiber

Critical Writing
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Year: 
2010
Pages: 
30-37
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All Rights reserved
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Abstract (in English): 

Opening speech for the 2nd National Symposium of ABCiber – Brazilian Association of Cyberculture Researchers (PUC-SP, 10-13 Nov 2008), intended as a memory of the intellectual and institutional context of the articles compiled in this work. The article discusses the advances achieved in relation to the data presented in the opening speech of the previous Symposium (PUC-SP, 25-29 Sep 2006), upon the foundation of ABCiber, especially insofar as it refers to the collective work of progressive construction of the field of studies about the relationships between digital technologies/networks, their modalities of collective and individual appropriation, and the social, cultural, political, and economic organization of contemporary transnational capitalism. After a brief mention of the dialectics of cyberculture – which is taken as the designation of the most current phase of the aforementioned social-historical formation –, to evoke the self-betrayal of the freedom of information (i.e., freedom of access to and individual retransmission of information) pertaining to this dialectics since the North American movement of microelectronics in the 1970s, this article reveals that, largely due to ABCiber’s contribution, the national scenario of research into cybercultural themes has prospered and transformed into a specific interdisciplinary scientific and cultural field within the ambit of the social division of intellectual labor in Brazil and abroad, with probable consequences for the composition of CAPES and FINEP’s new Knowledge Area Chart (KAC) – which, on the whole, cannot proceed without being tied simultaneously to the ongoing consolidation of ABCiber itself. Following in this vein, the discussion broaches the basic characteristics (structural and dynamic) of the aforementioned field of studies, with special emphasis on the intellectual and institutional responsibility its construction entails: that of transforming it into a privileged operational locus of observation and discourse for the fulfillment of the theoretical and critical mission of understanding the operational logic, tendencies and horizons of advanced mediatic civilization, with the intention of satisfying, to the greatest possible extent, the cognitive arrears engendered by the crisis of traditional and modern paradigms, in substitution of the mission heretofore entrusted to Sociology, Political Economy, Political Philosophy, Anthropology and Psychoanalysis, among other particular disciplines.

Abstract (in Portuguese): 

Conferência de abertura do II Simpósio Nacional da ABCiber - Associação Brasileira de Pesquisadores
em Cibercultura (PUC-SP, 10-13 nov. 2008), prevista como memória de contexto intelectual
e institucional dos artigos reunidos nesta obra. A argumentação abarca avanços em relação aos dados apresentados na conferência de abertura do Simpósio anterior (PUC-SP, 25-29 set. 2006), de fundação da ABCiber, especialmente no que se refere ao trabalho coletivo de construção progressiva do campo de estudos sobre as relações entre tecnologias/redes digitais, suas modalidades de apropriação coletiva e individual, e a organização do social, da cultura, da política e da economia no capitalismo transnacional contemporâneo. Após sucinta menção à dialética da cibercultura – esta tomada como designação da fase mais atual da mencionada formação social-histórica –, para evocar a autotraição da liberdade de informação (vale dizer: liberdade de acesso à e de retransmissão individual da informação) atinente a tal dialética desde o movimento norte-americano da microeletrônica na década de 70 do século passado, o texto constata que, muito em função da contribuição dada pela ABCiber, o recorte nacional de pesquisas sobre as temáticas da cibercultura prospera progressivamente para se transformar num campo científico e cultural interdisciplinar específico no âmbito da divisão social do trabalho intelectual no Brasil e no exterior, com prováveis consequências para a composição da nova Tabela de Áreas do Conhecimento (TAC) da CAPES, do CNPq e da FINEP – fato que, no todo, não caminha senão simultaneamente à consolidação in progress da própria ABCiber. Em compasso subsequente, a argumentação reúne as características básicas (estruturais e dinâmicas) do mencionado campo de estudos, concedendo especial atenção à responsabilidade intelectual e institucional contraída por sua construção: a de transformá-lo num locus privilegiado de observação e fala em cumprimento à missão teórica e crítica de compreensão da lógica operacional, das tendências e dos horizontes da civilização mediática avançada, com a
intenção de saldar, no quanto possível, a dívida cognitiva aberta pela crise de paradigmas tradicionais e modernos, em substituição à missão antes confiada à Sociologia, à Economia Política, à Filosofia Política, à Antropologia e à Psicanálise, entre outras disciplinas particulares.

Pull Quotes: 

Uma palavra mais sobre o aspecto cognitivo de nosso desafio e de nossa missão. Na década de 20 do século XIX, Marx alegou, no último trecho de 11 teses sobre Feuerbach,que os filósofos até então haviam se disposto a interpretar o mundo e que, a partir dali, o que cabia a todos era um caminho diverso: o de transformá-lo, no que isto significava em matéria de superação do modo de produção econômico vigente. Pouco mais e um século depois, Adorno, por sua vez, advertiu, em franco rigor dialético, equivalente ao de Marx e também atento a extrair consequências exaustivas do aprendizado histórico, que o resultado a que nos havia levado a ação de transformação do mundo – esta, de esquerda marxista-leninista e stalinista, que dirá a de direita, a de seu tempo, hitlerista, como os vezos fascistas de agora – não representou senão a restauração da barbárie em novas bases. Do que depreendemos de sua sinalização, a evocar a célebre metáfora que utilizou acerca da garrafa lançada em alto
mar com um recado de dignidade aos pósteros, podemos certamente dizer que, diante de tempos obscuros, nos quais até uma promessa mínima de emancipação ou redenção possível se vê traída, cabia-nos, a partir de meados do século XX, como também agora, com base num
ensinamento pungente, empreender um recuo estratégico para um dia voltar a compreender novamente o mundo e, assim, garantir, com o saber acumulado, aos indivíduos vindouros uma oportunidade objetiva de ação mais clara e consistente, quem sabe transformadora, sem os
vícios imperdoáveis dos predecessores.

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Luciana Gattass